Sakura Wars a joia escondida da SEGA

Gabriel Sansigolo
7 min readJun 11, 2020

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Sakura Wars — Capa Japonesa

Alguns fãs de animes, no início dos anos 2000 em algum momento conheceram ou ouviram falar de um anime chamado Sakura Wars, um anime de vinte e seis episódios que misturava robôs pilotáveis, demônios, Japão steampunk, muitas personagens femininas entre outros elementos.

Sakura Wars é tudo isso e mais um pouco, o primeiro jogo da série, adaptado no anime de 2000, conta a história de Ichiro Ogami um capitão recém-nomeado da Divisão das Flores (Flower Division) da secreta Força de Assalto Imperial (Imperial Assault Force), uma unidade militar dedicada a combater ameaças sobrenaturais em Tóquio, mantendo a cobertura como um teatro. Uma característica dessa divisão é o uso de robôs pilotáveis para combater as ameaças sobrenaturais. Ambientado em um Japão no período taishō com elementos steampunk, Sakura Wars é um RPG de estratégia que apresenta um sistema único de histórias baseado em simuladores de encontro (date-sim), com a história contada em formato episódico, onde cada um possuía suas próprias eyecatches (telas antes dos comerciais) e prévias do próximo episódio. A dúvida que fica é: como um jogo com um conjunto de elementos tão interessante se perdeu no tempo e a única grande lembrança é a sua adaptação em anime.

Olá para todos aqui que escreve é @G_Sansigolo e nesse terceiro texto no Medium pretendo continuar a discussão iniciada no último SDL relacionada ao jogo que estou jogando atualmente, Sakura Wars de Sega Saturn.

Produção

Oji Hiroi (Sakura Wars e Tengai Makyou) e Yu Suzuki (Virtua Fighter, Shenmue entre outros clássicos).

Em 1994, o presidente da SEGA da época procurou Oji Hiroi, um famoso autor e fundador da Red Company, com objetivo dar a empresa o trabalho de desenvolver um jogo de aventura first-party para o lançamento do Sega Saturn. Oji aceitou o convite e começou a trabalhar no projeto, tempo depois a empresa contratou Kōsuke Fujishima, um famoso autor de mangás, para trabalhar no design de personagens e Kohei Tanaka, compositor de One Piece, para trabalhar na trilha sonora do projeto. Posteriormente Kōsuke Fujishima trouxe para a equipe, Hidenori Matsubara um animador japonês para trabalhar nas diversas cenas de anime que o jogo conteria. Outra estrela da indústria de anime/mangas que ingressou no projeto foi o escritor Satoru Akahori, autor de Saber Marionette. Por causa da familiaridade com a escrita de animes Satoru escreveu o roteiro em um formato episódico, onde ao final de cada episódio era mostrado uma prévia do próximo. Com o time de estrelas de Oji Hiroi completo a Red Company iniciou o projeto de produção do jogo.

Ambientação e personagens

Screenshot de Tokyo na introdução de Sakura Wars

Sakura Wars é ambientado em uma representação do Japão de 1920. Uma característica do jogo é a trilha sonora e a interface visual inspirada no período taishō, período entre guerras (1912–1926). Nessa sociedade a secreta Força de Assalto Imperial usa como cobertura um teatro, o Grande Teatro Imperial (Grand Imperial Theater), isso inclui esporadicamente a preparação pela equipe de peças e manutenção geral do teatro. As estrelas do Grande Teatro Imperial fazem parte da Divisão das Flores, esse nome foi escolhido devido a todas as personagens terem nomes inspirados em flores. São elas:

Sakura Shinguji, inspirada em flores de cerejeira, é a heroína principal da série, com uma personalidade alegre ela é a mais nova membro da Divisão das Flores.

Sumire Kanzaki, inspirada em um tipo de violeta, é uma atriz conceituada e herdeira do clã industrial Kanzaki, com personalidade arrogante ela é uma piloto muito habilidosa.

Iris Chateaubriand, inspirada na flor íris, é a garota mais nova da Divisão das Flores, filha de aristocratas Franceses ela possui poderes psíquicos e pode se teleportar.

Maria Tachibana, inspirada na flor de laranjeira, é a vice capitão da Divisão das Flores, ela é muito fria e fechada, graças ao seu passado traumática na Rússia.

Kohran Li, inspirada na flor orquídea, é gerente de palco do Teatro Imperial, nascida na China ela muito bem-humorada e adora trabalhar com robôs.

Kanna Kirishima, inspirada na flor lírio de canna, é um mestre em artes marciais, ela é uma jovem com bíceps visível, ela atua com os músculos do time em diversas situações.

Da esquerda para a direita: Kohran Li, Maria Tachibana, Ichiro Ogami, Iris Chateaubriand, Sakura Shinguji, Sumire Kanzaki, Kanna Kirishima e Ayame Fujieda.

Sobre o jogo

Jogar o primeiro Sakura Wars, para mim, foi marcante. Eu conhecia sobre a série, por já ter jogado o quinto jogo da série (So Long My Love), eu conhecia sobre a sua produção, o gênero, o impacto do jogo e um pouco do legado, apesar de tudo isso o jogo ainda conseguiu superar minhas expectativas. Eu joguei a versão traduzida por fãs (lançada em 2019), desde o lançamento dessa tradução eu esperava para jogar, porém foi só após eu ter meu próprio Sega Saturn que dei uma chance. Como eu posso descrever a experiência de jogar, foi incrível, em diversas maneiras, assim como a Square formou um time dos sonhos para criação do clássico Chrono Trigger, a Sega fez com Sakura Wars, cada tarefa no desenvolvimento do projeto ficou na mão de um profissional, isso é perceptível ao jogá-lo. Meu primeiro destaque vai para a abertura, o jogo conta com uma abertura animada trilhada com o tema da série. Com cerca de um minuto e meio a animação ambienta com maestria o jogador ao universo do jogo.

Abertura do jogo Sakura Wars

O tema da série, graças ao majestoso trabalho de Kohei Tanaka, se tornou um sucesso, sendo mixado em quase todas as aberturas dos jogos da série. Esse tema também foi usado na abertura da adaptação em anime do jogo. Com o tempo o tema se tornou um hino para fãs da série sendo lembra até hoje.

Tema cantado durante uma das apresentações ao vivo do elenco de Sakura Wars

Outro característica que me atraiu baste a jogar Sakura Wars foi o sistema de batalha, como citado anteriormente o jogo é uma mistura dos gêneros de simulador de encontro (date-sim) e S-RPGs os RPGs de Estrategia.

Screenshot de uma batalha de Sakura Wars

O sistema de batalhas táticas do jogo com os robôs coloridos mistura elementos de estratégia de jogos de tabuleiro, algo inspirado na série de jogos Fire Emblem, com um número de ações limitado o jogador deve tomar decidir com cautela como mover suas tropas para conseguir exito nas batalhas. Inspirado em Kamen Rider e Ultraman, a forma como as batalhas se desenrolam é episódica, o inimigo da semana, porém com uma narrativa maior envolvendo os vilões da história. A inspiração em séries japonesas não vai só até ai, ela se estende a robôs coloridos, animações de entrada, anúncios de golpes, inimigos espalhafatosos, planos de dominação mundial, poses de vitória entre outros. Para que gosta do gênero é um prato cheio.

Por último uma característica que eu gostaria de destacar é a personalidade das personagens, como citado anteriormente, graças ao excelente trabalho do escritor Satoru Akahori as personagens do jogo são muito bem escritas, cada uma, possui mais personalidade que protagonistas de muitos jogos recentes. Conhecer mais sobre cada uma das garotas da divisão das flores é uma experiência indescritível.

Screenshot de uma conversa com Sakura

Relacionado interação de personagens, uma característica da série é o sistema LIPS (Live & Interactive Picture System) um sistema de interação dinâmico que exige decisões rápidas. Esse sistema distribui pontos de afinidade com cada uma das personagens, essa afinidade por sua vez resulta em melhores performances (status) na batalha. Esse sistema é o que inspirou o sistema de Social-Links/Confidents da série Persona dos jogos a partir do 3.

Impacto

Uma vez lançado não demorou para Sakura Wars se mostrar um sucesso, na primeira semana o jogo já contou com 205,270 unidades vendidas, recorde para a época, o jogo fechou a vida com 359,485 unidades vendidas. A adaptação em anime, lançada em 2000, também foi um sucesso levando a história para muito além do Japão. Apesar disso o anime não foi a primeira obra áudio-visual sobre o universo, um ano depois do lançamento do jogo um OVA foi lançando, nomeado: Sakura Wars: The Gorgeous Blooming Cherry Blossoms (1997). Ambas animações adaptam a historia do primeiro jogo. Uma adaptação em manga da história foi lançada anos depois do anime, escrita pelo autor do jogo.

Trailer do OVA de Sakura Wars (1997)

Como popularidade no mundo até maior que o jogo, o anime de Sakura Wars é considerado um sucesso. O mesmo chegou até ser seriado no Brasil, com dublagem em Português. Um dos motivos do anime ser mais popular que o jogo é que, até ano passado o único jogo lançado oficialmente da série no ocidente foi o “So Long My Love”, o quinto jogo da franquia, logo a única forma de se experienciar a história era através do anime, traduções feitas por fãs não surgiram antes pela dificuldade de se traduzir jogos para o Sega Saturn.

Com o sucesso do primeiro jogo uma sequência da série foi anunciada para a mesma plataforma, o Sega Saturn. Com o tempo a franquia recebeu mais jogos, dois para o Sega Saturn, dois para o Sega Dreamcast, um para o PlayStation 2 e um para o PlayStation 4 sendo esse último lançado nesse ano no ocidente, um soft-reboot da série, além de alguns spin-offs. A série hoje conta com quatro milhões de unidades enviadas globalmente.

Da esquerda para direita de cima para baixo: Sakura Wars, Sakura Wars 2, Sakura Wars 3, Sakura Wars 4, Sakura Wars 5 e Sakura Wars.

Conclusão

Sakura Wars é uma experiência única, seja jogando o jogo de Sega Saturn, assistindo o ova de 1997, o anime de 2000 ou lendo o mangá, Tudo ao redor da obra possui uma personalidade riquíssima, eu recomendo demais para todos, como dito no título do artigo, uma joia escondida da SEGA.

Sobre o mangá em março desse ano foi lançado no Brasil pela JBC o primeiro volume do mangá, traduzido pelo @tengumaru. Serão três volumes.

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Written by Gabriel Sansigolo

PhD Studant in Applied Computing INPE 🛰 Geoinformatics, Game Developer & Translator 🟣 Coded Lost Days 0 QD 🌖 Coded Lost Days 🩸 Coded Alette 0 RMA

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